Opinião

Complexidade econômica e desenvolvimento

Os sinais apontam para que se busque trajetória em que nossas commodities, entre elas o petróleo, sejam usadas como alavanca para o contínuo acúmulo de conhecimento nas indústrias associadas a estes produtos primários.

Por Telmo Ghiorzi

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Entender a dinâmica do crescimento econômico é preocupação permanente da humanidade. Pois promover crescimento é o grande objetivo dos países e entender o processo facilita a missão.

Há pouco mais de dez anos, pesquisadores da Universidade de Harvard desenvolveram o conceito de complexidade econômica, visando explicar correlações e causalidades sobre o crescimento econômico. Material abrangente sobre o tema pode ser encontrado no Atlas de Complexidade Econômica, neste website https://atlas.cid.harvard.edu/.

Para estes pesquisadores, a multiplicidade do conhecimento incorporado em pessoas, equipamentos e sistemas de gestão de uma país é que nutre sua complexidade econômica e que, portanto, bloqueia ou induz seu desenvolvimento econômico.

A partir da definição conceitual de complexidade econômica, eles criaram dois indicadores numéricos. O ECI, sigla em inglês de Economic Complexity Index, que indica a complexidade de um país, reflete a diversidade dos produtos que o país produz. E o PCI, sigla de Product Complexity Index, que indica a complexidade de um dado produto, reflete a ubiquidade, isto é, a quantidade de países que produzem este dado produto. Esses indicadores são interdependentes e, por meio de modelos matemáticos, são utilizados para corrigirem um ao outro.

No Atlas de Complexidade Econômica, observa-se que o petróleo, por exemplo, é um produto de baixo PCI, pois é produzido em muitos países, sendo muitos deles de baixo ECI. Ele ocupa a posição de 1217 em 1223 produtos analisados. Máquinas para realizar usinagem de precisão, usadas na fabricação de equipamentos da indústria petrolífera, ocupam as posições 8, 9 e 10, pois são produzidas por poucos países, sendo muitos deles de alto ECI.

Os PCI e os ECI variam ao longo do tempo. A figura abaixo, obtida no website do Atlas, mostra a evolução do ECI de países selecionados.

 

 

O Japão é o país de maior ECI desde 1995. Naquele ano, Coreia do Sul, Noruega e Brasil ocupavam posições próximas, todos acima da China. Desde então, a Coreia do Sul passou da posição 21 para a 4, e a China, saltando de 46 para 17, superou a Noruega, que caiu de 24 para 37, e o Brasil, que caiu de 25 para 60. É notável o caso da Venezuela, que caiu de 62 para 125.

As tendências observadas na figura refletem o que se observa na evolução do PIB e outros indicadores sociais e econômicos destes países. De fato, as evidências mostram que o ECI tem mais poder de explicar e prever mudanças na dinâmica econômica do que os indicadores educacionais e de robustez institucional de economias nacionais.

O caso do Brasil e, em particular, de sua indústria de petróleo, suscita algumas reflexões. O país tem ECI baixo e com tendência de queda. Isso decorre de sua excessiva concentração em produção de produtos de baixo PCI, como commodities agrícolas, minérios e petróleo.

Contudo, o país tem indicadores positivos no setor petrolífero. A trajetória do setor mostra extensiva criação e incorporação de conhecimento. Para muito além de petróleo, o país tem capacidade de produzir equipamentos complexos e que são produzidos em poucos outros países, todos com alto ECI. Isto parece apontar, embora não haja estudo específico a esse respeito, para um valor alto do que pode ser chamado de ECI setorial da indústria brasileira de petróleo.

Os desafios do Brasil tornam-se a cada dia mais bem compreendidos e com soluções mais claras. Resta-nos formular e adotar estratégias consistentes com essa compreensão. Os sinais apontam para que se busque trajetória em que nossas commodities, entre elas o petróleo, sejam usadas como alavanca para o contínuo acúmulo de conhecimento nas indústrias associadas a estes produtos primários. O país passaria assim a ser produtor de bens e serviços de alto PCI, promovendo aumento do ECI e, por conseguinte, pavimentando desenvolvimento econômico rápido e perene.

 

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