Opinião

Energia elétrica da biomassa da cana como reservatórios virtuais

Geração de energia da cana ocupa a terceira posição na matriz de oferta de energia elétrica à rede, atrás somente das eólicas e hidrelétricas

Por Zilmar de Souza

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Recentemente, escrevemos artigo informando que, em 2023, a bioeletricidade em geral (que inclui as diversas biomassas) bateu recorde de produção de energia para a rede no ano passado. O valor final, calculado a partir de dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), foi uma oferta de 28.137 GWh para a rede em 2023, um crescimento de 10,1% em relação a 2022, superando o recorde anterior de 2010 (27.476 GWh).

O principal combustível na geração de bioeletricidade tem sido o bagaço e a palha da cana-de-açúcar. Por isso, a importância de abordar a produção específica da bioeletricidade com biomassa da cana-de-açúcar e seu desempenho em 2023, objetivo deste artigo.

No ano passado, a geração de bioeletricidade para a rede, com o bagaço e a palha da cana-de-açúcar, representou quase 75% de toda a geração de bioeletricidade para a rede no país. Em 2022, a biomassa da cana representou 72% da geração total de bioeletricidade à rede no país.

Essa geração da bioeletricidade sucroenergética é a produção das usinas canavieiras excedente para a rede, sem considerar a produção de energia elétrica destinada ao autoconsumo na produção de açúcar e etanol. Em 2023, foi uma oferta de 20.973 GWh, com um crescimento de 14% em relação a 2022, sendo equivalente a:

  • 4% do consumo nacional de energia elétrica em 2023 ou a atender 10,8 milhões de unidades consumidoras residenciais.
  • Atender quase duas vezes o consumo anual de energia elétrica de um país como o Uruguai, 42% de Portugal ou 1/3 da Suíça.
  • 25% da geração de energia elétrica pela Usina Itaipu, 72% da geração pelo Complexo Belo Monte ou 115% da geração termelétrica a gás para a rede em 2023.
  • Evitar as emissões de CO2 estimadas em 4,3 milhões de toneladas, marca que somente seria atingida com o cultivo de 30 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.

A geração para a rede pelo setor sucroenergético foi superior à geração fotovoltaica (20.091 GWh), excluindo a micro e mini Geração Distribuída. Sem considerar as demais biomassas, bagaço e palha da cana ocupariam, sozinhos, a 3ª posição na matriz de oferta de energia elétrica à rede, atrás somente das eólicas (que geraram 91.882 GWh) e as hidrelétricas (430.122 GWh).

Um ponto importante é que a geração para a rede, pela fonte biomassa, é caracterizada como não intermitente e acompanha principalmente o período de colheita da cana-de-açúcar na Região Centro-Sul do país. Dessa forma, acaba coincidindo também com o período seco e crítico no setor elétrico brasileiro, que vai de maio a novembro a cada ano.

Os quase 21 mil GWh ofertados à rede pelo setor sucroenergético, no ano passado, representaram termos poupado 14 pontos percentuais da capacidade total de energia armazenada na forma de água nos reservatórios das hidrelétricas do submercado Sudeste/Centro-Oeste, por conta da maior previsibilidade e disponibilidade da bioeletricidade justamente no período seco e crítico para o setor elétrico brasileiro.

Em 2023, 86% da geração de bioeletricidade para a rede foram ofertados justamente entre maio e novembro e 92% se incluirmos o mês de abril, conhecido como o início da safra canavieira na Região Centro-Sul. Em 2021, considerado o ano mais seco desde 1931, a bioeletricidade gerou 87% de sua oferta à rede entre maio e novembro daquele ano e 95% considerando abril a novembro.

A bioeletricidade é uma fonte previsível (não intermitente) e fortemente complementar às hidrelétricas, cumprindo função de "reservatórios virtuais" e reduzindo o nível de intermitência global do sistema, ao mesmo tempo que apresenta atributos de sustentabilidade essenciais para o país continuar na trilha buscando um planeta mais responsável e seguro.

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