Opinião

Sandboxes regulatórios para a cadeia de valor no setor elétrico

Aneel trabalha para criar regulamento geral definindo as diretrizes para programas de ambiente regulatório experimental nos diversos segmentos do setor elétrico

Por Zilmar de Souza

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A aplicação do conceito de sandbox regulatório é relativamente nova. Em 2015, foi aplicado pelo regulador financeiro do Reino Unido para acelerar as inovações naquele mercado.

No Brasil, a Lei Complementar nº 182/21, que instituiu o marco legal das startups e do empreendedorismo inovador, definiu o ambiente regulatório experimental (ou sandbox regulatório) como sendo elaborado com a finalidade de suspender temporariamente a obrigatoriedade de cumprimento de normas exigidas para atuação em determinados setores, permitindo que empresas possam usufruir de um regime diferenciado para lançar novos produtos e serviços inovadores, com menos burocracia e mais flexibilidade, mas com o monitoramento e a orientação dos órgãos reguladores (TCU, 2023).

Contudo, a ideia de um sandbox regulatório vai além de se estimular apenas o desenvolvimento de um produto ou serviço regulado, tratando também de soluções regulatórias inovadoras. Em 2022, a ANTT, citando o Centro de Inovação Regulatória do Canadá – CRI (2021), sumarizou esses experimentos de sandbox regulatório a essas duas funções principais:

  • Teste de produto ou serviço, correspondente ao tipo de experimento de um produto ou serviço regulado; e
  • Teste de solução regulatória inovadora, correspondente aos experimentos de uma nova abordagem para regular e ao experimento de uma política ou processo regulatório.

Desde setembro de 2020, quando a Aneel autorizou a Copel a realizar projeto‐piloto de Chamada Pública para contratar energia proveniente de geração distribuída e formar micro redes, o conceito de sandbox regulatório começou a se materializar no setor elétrico.

Em 14 de dezembro de 2021, a Aneel publicou o regulamento para o desenvolvimento e aplicação de projetos-pilotos que envolvam faturamento diferenciado pelas distribuidoras de energia elétrica, conhecidos como sandboxes tarifários.

A iniciativa resultou na 1ª Chamada Pública para Sandbox Tarifário, com a autorização pela Aneel, em 18 de abril de 2023, da execução de seis projetos de sandbox tarifário, com prazos para a conclusão variando de 22 a 44 meses.

Paralelamente, também está em curso a implementação de sandboxes com foco na

prestação de serviços ancilares, sendo que o ONS poderá dispor, mediante autorização específica da Aneel, de produtos alternativos para prestação de serviços ancilares em ambiente regulatório experimental.

No início de julho deste ano, a Aneel instaurou a Tomada de Subsídios 009/2023, buscando obter subsídios para o estabelecimento de diretrizes para programas abrangentes de ambiente regulatório experimental no setor (e não apenas sandbox tarifário).

A cadeia de valor no setor elétrico é ampla, compreendendo a produção, o transporte, a distribuição, a comercialização e o consumo de energia elétrica. A possibilidade de extensão de sandbox regulatório para toda a cadeia de valor será um importante avanço, com geração de resultados para investidores e consumidores finais.

Além do desenvolvimento de tecnologias, um brainstorming rápido nos informa que testes de solução regulatória serão úteis para prover regulamentação inovadora e ágil em temas como: atributos ambientais no setor elétrico; permissão da venda bilateral de excedentes às garantias físicas das usinas de fonte renovável e dos créditos de GD no mercado livre; tornar a liquidação financeira no mercado de curto prazo eficiente - ainda judicializada; armazenamento de energia; simplificação do processo de Liquidação Financeira dos Encargos de Uso da Transmissão etc.

São muitos os desafios temáticos e, certamente, sandboxes regulatórios ajudarão a acelerar o aprimoramento da regulamentação, sob supervisão dos entes reguladores, melhorando o ambiente de negócios e beneficiando os consumidores finais no setor elétrico brasileiro.

 

Zilmar Souza é doutor em engenharia de produção e pós-doutor em economia. Atua principalmente em temas relacionados ao setor elétrico, Agroenergia e Economia Ambiental. Escreve na Brasil Energia a cada três meses.

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