Opinião

Resiliência, inovação, competitividade

Para nos dar competitividade mundial no período pós pandemia, o mais sensato seria caminhar para a gestão dos inventários de emissões de cada empresa

Por Claudia Bethlem

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[vc_row][vc_column][vc_column_text]Três atitudes básicas para esse novo momento me vêm à cabeça como bastante necessárias: a resiliência, tanto humana como econômica; a inovação, para abraçar a nova realidade pós pandemia com classe, e a competitividade, abraçando um estilo de vida e modelos de negócio simplificados, enxutos, que permita aos profissionais brasileiros prosperarem.

Por resiliência entendo que 2020 chegou com mais uma mensagem clara de que "business as usual" já não existe mais. Nosso desafio é promover um crescimento que traduza resiliência em economias fortes e produtivas e meio ambiente saudável. Não existe meio ambiente saudável com a economia fraca, vide o que estamos vivendo, e vice-versa. Lidar com esse desafio será essencial para nossa permanência como espécie nesse planeta, e não mais uma questão de opção.

Nunca houve tanta gente simultaneamente na face da terra como existe hoje. Como vamos nos relacionar daqui pra frente em um mudo cheio de pessoas que tem que se manter afastadas fisicamente, mas conectadas socialmente, vamos descobrir aos poucos. Da forma como existimos até o momento pré-pandemia, não seremos mais. Entra aí, o desafio da inovação. O mundo digital provou ser uma ferramenta eficiente e bastante confiável para mover uma parte das relações econômicas. Durante a pandemia vimos inúmeros exemplos de empresas inovando e com rapidez para produzir material hospitalar e álcool gel, por exemplo. O movimento contínuo da evolução segue, e a direção é para frente. Ao mesmo tempo, faz parte da biodiversidade humana que exista uma outra corrente de pensamento que manifeste sempre apego a situações passadas, e que deve ser aceito, pela simples razão de que ele será sempre um contratempo interessante para que o equilíbrio seja mantido.

A oportunidade de inovações que provêm de um mundo pós crise é demasiado valiosa e atraente para uma economia já bastante castigada como a nossa, para que fiquemos perdendo tempo com distrações políticas ou midiáticas. Mais do que nunca, somos um país de empreendedores e ter a oportunidade de trabalhar nesse momento em uma economia mais funcional, menos agressiva aos seres vivos, é bastante especial, porque o mundo como o criamos até o momento, nos adoeceu.

Segundo o PNUMA*,atualmente, 60% das doenças já existentes e 75% de todas as doenças infecciosas emergentes são zoonóticas, isto é, causadas por vírus transmitidos de animais, domésticos ou selvagens, para seres humanos. Zoonoses como o Ebola, a gripe aviaria, o SARS, Zika, e agora o coronavírus. Todos ligados a atividade humana. Como oportunidade de inovação pós pandemia, toda a cadeia de produção de animais será revista, considerando que, no mínimo, o espaço entre eles durante a criação, deverá ser aumentado. À luz do que vem acontecendo conosco nas cidades nesse momento, o isolamento físico permite que as enfermidades não sejam transmitidas tão rapidamente entre os indivíduos da mesma espécie. As soluções para manter a produtividade nesse novo cenário só poderão vir da inovação.

As cadeias de suprimentos globais devem gerar uma nova dinâmica na economia de países que produzem seus bens fora de seu território, em especial no que concerne a alimentação. Esse desenho provou ter um risco elevado em momentos de catástrofes globais e irá mudar. Mudando a dinâmica da produção de alimentos, toda a estrutura de comércio global também muda, e as relações criadas durante a crise, de abrangência mais local, devem permanecer e se fortalecer, o que ambientalmente já e bastante significativo em termos de emissões de carbono.

Tudo isso de certa forma, já estava sendo aguardado, segundo o livro de John Elkington, que repensa a sustentabilidade empresarial (Cisnes Verdes: o novo boom do capitalismo regenerativo). Elkington, de maneira consciente, coloca alternativas ao crescimento econômico global, que já vinham ocorrendo para aqueles que na vanguarda, inovando ou,“ desencadeando espirais positivas ascendentes” para enfrentar a emergência das mudanças climáticas e atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Um exemplo são as empresas do Sistema B.

Os critérios de risco financeiro seguirão movendo o mercado como molas propulsoras nessa nova direção, incorporando as incertezas ambientais e se adaptando a elas, sugerindo flexibilidade dos investimentos e da infraestrutura planejada. Os investimentos estruturais passam a levar em conta critérios focados também no bem-estar comum e em especial, em promover a saúde, algo que viemos sempre postergando.

Não sabemos ainda para onde, mas há uma enorme chance de fazer algo inovador e diferente do que o que nos trouxe até aqui, é de verdade uma oportunidade muito interessante de se obter resultados diferentes, forjados a partir de novas atitudes.

Minha perspectiva sempre será otimista, e essa nova sustentabilidade será puxada pelas grandes instituições financeiras e sua percepção de risco atualizada sobre as questões ambientais. Em seguida, vem o mercado fortalecendo a iniciativa, existe um universo de oportunidades a ser explorado de tecnologias limpas e ele será ocupado, e de forma rápida. Quando a sustentabilidade é aplicada de maneira real em qualquer iniciativa, os resultados são uma grande economia de recursos naturais e financeiros. Incorporar mudanças consiste num processo lento, mas essemomento atual é propicio para um forteavanço, porque nossa memória de perigo foi ativada, saímos do modo automático para o modo alerta, estamos conscientes, expectantes.

No mundo todo já vemos as empresas se mexendo em busca dessa economia pós pandemia em um patamar inferior, porém mais resiliente aquela pré existente. Os CEOs alemães, em uma aliança de 68 empresas incluindo algumas internacionais, pediram recentemente ao governo uma retomada da economia pós pandemia seguindo os padrões climáticos compromissados no Acordo de Paris. Da mesma forma, 100 empresas francesas encabeçadas pelo BNP Paribas pedem a aceleração da economia baseada na transição ecológica.

Quatro grandes empresas de petróleo também afirmaram seus compromissos de reduzir as emissões para "zero", depois que a Total seguiu a Repsol, BP e Shell. Essas empresas possuem um peso considerável nas emissões de carbono a cada ano e essa nova trajetória muda totalmente o perfil e a competitividade no mercado de energia e todos os outros que vem puxados por essa grande alavanca, inclusive o ambiental.

Durante a pandemia vimos que o consumo local forçado pela situação global permitiu sustentar as pessoas e presenciamos uma enorme redução nas emissões a na nossa pegada planetária como espécie. Em poucos dias de quarentena, todos os padrões ambientais tiveram variações positivas, biodiversidade, recuperação de áreas degradadas, redução na geração de resíduos, emissões atmosféricas, redução no consumo, redução drástica na queima de resíduos fosseis. É impressionante a capacidade de regeneração dos ecossistemas. O serviço que eles prestam a nossa espécie nunca ficou tão evidente.

Precisamos ser mais eficientes no uso de recursos naturais e na geração de emissões. Nossa resiliência depende também do meio ambiente saudável. Várias experiências práticas mostram que otimizar a utilização de recursos naturais ao longo de qualquer processo, é o melhor caminho para eficiência operacional e a competitividade no mercado.

O caminho é para frente, e o tempo será um aliado precioso nas possibilidades de um mercado vasto de soluções sustentáveis, que engloba os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, as tecnologias limpas, a redução do impacto ambiental global e a regeneração de ecossistemas impactados. O início do capitalismo regenerativo é a intensificação do que estamos vivendo em pequena escala, o dinheiro indo cada vez mais para empresas que praticamos objetivos do desenvolvimento sustentável.

Que fique claro que fenômenos ambientais não obedecem a partidos, sejam eles microrganismos ou incêndios. A lei ambiental é baseada no equilíbrio, o caminho do meio. Se somos muito restritivos e ineficientes, as irregularidades aumentam. Buscar o desenvolvimento sustentável dentro da realidade brasileira, é mudar tudo o que praticamos nos últimos vinte anos, incorporando todas as experiências de forma útil para a preservação ambiental.

Como podemos refletir na questão ambiental, de maneira prática, os pilares de resiliência, inovação e competitividade? Como manter a qualidade ambiental com uma economia pulsante?

Segundo a Revista Nature Climate, em artigo recém-publicado, o momento da pandemia alterou as demandas globais de energia. Devido ao isolamento social, as emissões diárias de CO2 diminuíram aproximadamente 17% até o início de abril de 2020 em relação aos níveis de 2019; e as previsões são de que as emissões anuais podem cair 7% (4%) se a normalidade retornar no meio do ano (meados de junho).

Voltar a uma economia em níveis mais baixos do que o pré existente é a proposta global do momento, aproveitando que viemos parar nesse local, forçadamente. Para nos colocar no patamar da competitividade mundial para esse período pós pandemia, o mais sensato seria caminhar para a gestão dos inventários de emissões de cada empresa e suas metas dentro do escopo do licenciamento ambiental em lugar dos estudos de impacto, alinhados aos objetivos do Renova Bio e dos compromissos com o desenvolvimento sustentável, de forma prática e quantitativa. Essa informação já obrigatória para as empresas, pode constituir a base do licenciamento ambiental competitivo. As empresas passam a ter vantagens reais e diretas a cada melhoria de resultado. O desenvolvimento é permitido, dentro do universo do mercado de carbono. A métrica do mundo muda.

Nos despedimos, então, dos estudos de impacto ambiental para atividades que já existem;  já identificamos e avaliamos os impactos ambientais dessas atividades há pelo menos 20 anos, e sim, gostaria de propor que fossemos além, sempre reconhecendo com louvor todas a iniciativas de regulamentação ambiental, e ao mesmo tempo sentindo que elas não atendem a realidade há muito tempo.

A inovação tem que estar presente nessa economia regenerativa, e é a partir de decisões de gestão em tempo real, baseado em dados de monitoramento ambiental, que ocorre uma gestão ambiental efetiva. A utilização de plataformas de dados para fins de gestão não é novidade no Brasil e possui modelos bem interessantes como a desenvolvida pelo INEA, MMA para a Baia da Ilha grande, por exemplo, o projeto BIG. O tempo banco de dados já passou e precisamos dessas informações para ontem, funcionando, e um órgão ambiental que caminha a frente das demandas, fortalecido e com velocidade para gerar diretrizes práticas a partir de 20 anos de coletas de dados ambientais e de estudos de impacto.

No setor do petróleo, por exemplo, bacias como as de Santos e Campos, possuem dados de monitoramento ambiental robustos e consistentes. Alguns dos projetos de monitoramento ambiental atuais atingiram o “nirvana” da coleta de dados, como o Programa de Monitoramento de Cetáceos da Bacia de Santos, ou os Programa de Monitoramento de Praias. Minha carreira no licenciamento teve inicio no Ibama, no antigo escritório de licenciamento de Óleo e Gás no ano 2000, e imaginávamos um dia chegar nesse momento, quando há informação suficiente para embasar tecnicamente e dar celeridade a emissão das licenças em áreas já produtivas. Acho que diretrizes devem ser revistas, as medidas compensatórias e mitigatórias devem ser mantidas, dentro de um universo de indicadores e metas gerenciáveis e realistas, definidas a partir das cargas poluidoras que são informadas a cada ano pelas empresas.

Enfim, esse é um momento fértil e especial, e mais uma vez é nos dada a chance de aceitar o caminho da evolução e construir um novo momento, saudável, de equilíbrio, longe dos radicalismos. Esse caminho deve ser trilhado sempre nos braços da ética e da transparência, construindo um consenso entre os diversos setores, de forma que o resultado seja funcional.

Claudia BP Bethlem  é Consultora Ambiental Independente com mestrado em Oceanografia e especialização em estimativas de abundância de mamíferos marinhos. Graduou-se em Biologia pela Universidade Santa Úrsula e fez mestrado na FURG – Fundação Universidade do Rio Grande.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_raw_html]JTNDZGl2JTIwcm9sZSUzRCUyMm1haW4lMjIlMjBpZCUzRCUyMm5ld3NsZXR0ZXItb3Bpbmlhby02ZWY3ZjBkYWRiMWJmYzA0YTA5MyUyMiUzRSUzQyUyRmRpdiUzRSUwQSUzQ3NjcmlwdCUyMHR5cGUlM0QlMjJ0ZXh0JTJGamF2YXNjcmlwdCUyMiUyMHNyYyUzRCUyMmh0dHBzJTNBJTJGJTJGZDMzNWx1dXB1Z3N5Mi5jbG91ZGZyb250Lm5ldCUyRmpzJTJGcmRzdGF0aW9uLWZvcm1zJTJGc3RhYmxlJTJGcmRzdGF0aW9uLWZvcm1zLm1pbi5qcyUyMiUzRSUzQyUyRnNjcmlwdCUzRSUwQSUzQ3NjcmlwdCUyMHR5cGUlM0QlMjJ0ZXh0JTJGamF2YXNjcmlwdCUyMiUzRSUyMG5ldyUyMFJEU3RhdGlvbkZvcm1zJTI4JTI3bmV3c2xldHRlci1vcGluaWFvLTZlZjdmMGRhZGIxYmZjMDRhMDkzJTI3JTJDJTIwJTI3VUEtMjYxNDk5MTItOCUyNyUyOS5jcmVhdGVGb3JtJTI4JTI5JTNCJTNDJTJGc2NyaXB0JTNF[/vc_raw_html][/vc_column][/vc_row]

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