Opinião

Petróleo e ESG: uma coexistência harmoniosa

A exploração de recursos de petróleo e gás não é necessariamente antagônica aos princípios de sustentabilidade e responsabilidade social, quando realizada de maneira estratégica e responsável

Por Heitor Paiva

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É amplamente aceito que as mudanças climáticas são uma realidade, e que é crucial mitigar suas consequências por meio da eficiente descarbonização dos setores econômicos. Esse objetivo só pode ser plenamente alcançado por meio da transição energética, que é uma direção à qual a humanidade deve se empenhar. No entanto, surge um dilema nesse discurso: esta transformação parece incompatível com a realidade econômica de várias nações situadas na periferia global.

Países latino-americanos, africanos e do sudeste asiático não possuem a mesma capacidade de investimento em energia renovável que as nações desenvolvidas. Além disto, o nível de renda destes locais é comparativamente mais baixo e suas economias são menos diversificadas. Entretanto, estas mesmas regiões abrigam vastas reservas de petróleo e gás, capazes de auxiliar na superação deste padrão de desenvolvimento deficiente. Isto permitiria a descarbonização eficaz sem impor grandes custos sociais futuramente.

Um exemplo é a situação da Guiana, vizinha do norte do Brasil. Desde a descoberta de reservas de petróleo offshore em 2015, o país tem passado por transformações econômicas profundas. A nação, que é relativamente pequena, apresenta um dos maiores crescimentos econômicos mundiais desde 2021; em menos de duas décadas, o PIB per capita saltou de 990 para quase 10 mil dólares. Esse avanço é claramente perceptível na melhoria da qualidade de vida dos guianenses, reconhecida inclusive pelo Banco Mundial, que recentemente classificou o padrão de renda do país como elevado.

No ano de 2022 exclusivamente, a Guiana gerou uma receita excedente de 1,1 bilhão de dólares a partir da exportação de petróleo. Essa significativa injeção de recursos possibilitou a inauguração de doze hospitais e escolas, assim como a execução de dois projetos rodoviários ambiciosos. No entanto, merece destaque entre esses empreendimentos a decisão de investir na construção de uma infraestrutura dedicada à geração de eletricidade a partir do gás natural. Um montante considerável, quase 2 bilhões de dólares, foi destinado a financiar esse projeto, que por sua vez promete reduzir pela metade os custos da energia no país.

Esses progressos representam conquistas sociais de importância ímpar para uma nação que historicamente esteve limitada por um crescimento econômico modesto e pela pobreza. Não seria incorreto considerar essas realizações como componentes do âmbito social do ESG (Environmental, Social and Governance, na sigla em inglês)? Essa perspectiva se fortalece, especialmente quando se observa que a pegada de carbono por barril offshore na Guiana é inferior à média mundial (18 kg CO2e/boe em comparação com 9 kg CO2e/boe).

Dessa forma, torna-se claro que a exploração de recursos de petróleo e gás não é necessariamente antagônica aos princípios de sustentabilidade e responsabilidade social, quando realizada de maneira estratégica e responsável.

 

Heitor Paiva é analista de mercado e atua com inteligência e pesquisa no mercado de câmbio e commodities, principalmente através de análise fundamentalista aplicada às commodities energéticas. Atualmente está baseado em Copenhague, na Dinamarca, como analista do mercado de petróleo e combustíveis marítimos na Maersk. Escreve na Brasil Energia a cada dois meses

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