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Corrida pelo lítio passa por cima de critérios ESG na África 

ONG Global Witness denuncia trabalho infantil e em condições inseguras, impacto ambiental e corrupção na exploração do mineral em países africanos

Por Marcelo Furtado

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A demanda global explosiva por minerais da transição energética, em específico do lítio, essencial para a produção de baterias dos carros elétricos,  já começa a preocupar entidades ligadas a direitos humanos e à proteção ambiental.

Relatórios recém-concluídos de investigações da ONG Global Witness, especializada em fiscalizar o impacto da exploração de recursos naturais em países menos desenvolvidos, apontam que a corrida pelo lítio no Zimbábue, na Namíbia e na República Democrática do Congo, na África, está resultando em uma série de problemas sociais e ambientais, além de estimular a corrupção local por meio de "esquemas" com mineradoras chinesas e australianas.

Com investigações em minas de lítio nos três países, concluídas no fim de 2023, a ONG verificou irregularidades graves em todas elas. No Zimbábue, na mina de Sandawana,  há trabalho infantil, escavadores artesanais em condições inseguras, além de registro de soterramento com morte de mineiros.

Vale ressaltar ainda, segundo a investigação da Global Witness,  que o Zimbábue exportou  milhares de toneladas de lítio não processado em 2023, o que é proibido por lei local. A mina é controlada pelo partido governante do país e por militares.

Na Namíbia, a acusação é a de que a empresa chinesa Xinfeng Investiments adquiriu a mina de lítio Uis por meio de suborno e, além disso, passou a operar a partir de licenças destinadas a mineradores locais de pequena escala. Segundo a ONG, isso permitiu que a Xinfeng passasse a minerar um grande depósito de lítio por apenas 140 dólares.

Também foi apurado que a Xinfeng envia milhares de toneladas de lítio brtuo para a China, não cumprindo promessas de construir instalações de processamento na Namíbia. A empresa também estaria abrigando trabalhadores em “condições de apartheid”, subornando chefes locais e afetando a vida selvagem que gera renda com turismo.

Por fim, no Congo, a denúncia principal envolve corrupção na jazida de lítio de Manono, cuja mineração está suspensa por conta de disputa envolvendo empresas australianas e chinesas. Segundo a ONG, o projeto gerou até US$ 28 milhões para empresas de fachada mantidas por intermediários de um ex-presidente do país.

Além disso, a mineradora estatal que assinou acordos com as empresas estrangeiras estaria envolvida em um esquema de corrupção que resultou em venda dos direitos do lítio a um preço ínfimo para o Estado. 

‘Transição energética injusta’

Apesar de atualmente 90% do lítio do mundo, cuja produção foi de 130 mil toneladas em 2022, ser originário da Austrália, China e Chile, a projeção de a demanda sextuplicar globalmente entre 2022 e 2035 fará obrigatoriamente com que novos países produtores ganhem cada vez mais relevância.

Na África, além dos três países investigados, também o Mali, Gana e a Etiópia têm reservas consideráveis ainda a ser exploradas, o que aumenta a preocupação da ONG com o aumento dos casos do que chama de “transição energética injusta”. 

Isso sem falar que outras regiões do mundo, também de economias emergentes e mais vulneráveis, também precisarão atender a essa demanda futura.

Na América do Sul, além da atual importância do Chile, o segundo maior produtor global, atrás da Austrália e na frente da China, a Bolívia se destaca com uma das maiores reservas mundiais do chamado “ouro branco”, no Salar de Uyuni.

Também a Argentina tem importância nesse cenário, assim como o Brasil, no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país e onde está concentrada cerca de 85% das reservas nacionais de lítio.

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