e-revista Brasil Energia 483

Brasil Energia, nº 483, 30 de outubro de 2023 57 presa pública. Ela demora muito para fazer planos de capex, de investimento. Vou dar um exemplo: A Petrobras fez um anúncio recente sobre a intenção de instalar a capacidade de geração eólica em alto mar de 23 GW. Até colocar a primeira torre deste parque vai levar muito tempo. Aproveitando o gancho, como você interpretou a intenção da Petrobras em se tornar o maior player da geração eólica offshore do país nos próximos anos? Há de se ter muito cuidado com a questão da eólica offshore no Brasil. Por enquanto, trata-se de uma carta de intenções da Petrobras, por assim dizer, ainda há muitas incertezas regulatórias sobre esta atividade. Sou muito cético em relação à eólica offshore no Brasil. O Brasil tem um cenário de excesso de capacidade de geração instalada que, segundo alguns especialistas, pode perdurar pelo menos até 2026. Obviamente, vai depender muito do regime de chuvas. Se tivermos um ou dois anos de seca, talvez seja antes; se for um pouco melhor, talvez fique para depois. Mas acho que o número mágico é 2026. Outro desafio é que muitas das empresas que participam da cadeia de suprimentos da indústria eólica offshore integram o supply da indústria de E&P. De novo, não acho que é o cenário de crise apocalíptica que talvez o mercado tenha precificado em 2022, mas também não é uma indústria que tem capacidade de sobra. Já está claro que a Petrobras vai fazer alguma coisa em energia elétrica, seja de um jeito ou de outro, em energia renovável. Mas acho que o volume de investimentos e sua velocidade serão bem diferentes do que alguns temem. Entre avaliar e colocar um projeto na rua tem uma distância muito grande. Esses projetos têm que passar por todo o processo de governança da empresa, que está muito mais robusto. Como eu disse, a cláusula do estatuto da Petrobras é muito importante. Se o governo quiser comprar briga para mudá-la, aí a coisa muda de figura. Mas enquanto ela estiver lá, a gente entende que “quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas”. Quero dizer o seguinte: a Petrobras está mudando? Sim, mas não está mudando tanto assim. Nos últimos anos, a Petrobras fez um movimento muito interessante quando vendeu campos maduros que não mais lhe interessavam do ponto de vista econômico e operacional. Essa iniciativa, interrompida, permitiu o aumento da produção, da arrecadação e a entrada de novos players como 3R e PetroReconcavo. Qual sua avaliação sobre o cenário para as petroleiras independentes? Em primeiro lugar, temos que separar as realidades distintas do onshore e offshore. Para quem está no offshore, ainda existem muitos ativos a serem adquiridos que não pertencem à Petrobras. Além disso, esses ventos políticos vêm e vão, teremos novas eleições. Não sabemos qual será a diretriz da Petrobras para o próximo governo. É impossível saber. Se alguém se arriscar, falar alguma coisa, provavelmente vai errar. Quando olhamos as curvas de certificação das empresas, ainda há um potencial de crescimento interessante antes de os ativos entrarem em declínio. É claro, chegará uma hora que a técnica de revitalização, por si só, já terá atingido o seu limite. Geralmente, essas curvas de certificação crescem muito rápido, atingem

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