56 Brasil Energia, nº 483, 30 de outubro de 2023 entrevista André Vidal Head Óleo, Gás e Petroquímicos da XP Investimentos No que diz respeito à dificuldade dos analistas, é curioso como destoam tanto as previsões da IEA (International Energy Agency) e da Opep. Parece até que há uma tentativa de incutir suas visões particulares e interesses em suas análises. Exatamente. Concordo 100%. Essas agências estão ficando cada vez mais politizadas e menos técnicas. Na prática, é isso. Adicione o fato de que a qualidade da informação está ruim, como eu disse. Debate-se, por exemplo, a demanda da China, mas se não é possível entendê-la hoje, imagine no próximo mês. A qualidade da informação que vem da China está pior, o número de séries disponibilizadas tem sido reduzido ao longo do tempo. O que era ruim está ficando pior. Recentemente, o Fórum Internacional de Energia (IEF) divulgou um relatório demonstrando as divergências das três grandes agências (Opep, EIA e IEA) acerca das previsões de oferta e demanda. As assimetrias são enormes. Outro tema fundamental é a questão do financiamento para as atividades relacionadas à óleo e gás. O ativismo climático colocou de joelho os conselhos de algumas das maiores petroleiras privadas do mundo. O mundo vive uma escalada inflacionária, de juros altos. Como você está vendo esta questão? O financiamento para o E&P está mais difícil? De dez anos pra cá, ficou mais difícil. Agora, acho, também, como você bem colocou, que o pessoal parece ter acordado para a realidade depois da guerra. O melhor exemplo é o das majors europeias, que eram as que mais abraçavam a transição energética, mas que recuaram no ímpeto. Ficou claro para todo mundo que não é possível realizar a transição energética da noite para o dia. Eu não vou nem colocar aqui que a culpa é dos governos. A culpa é da sociedade como um todo, que quis forçar a mão sem estarmos prontos. Enfim, eu sou bem cético. Acho que essa transição energética que o pessoal fala tem uma questão de suprimentos de metais estratégicos complicadíssima. Não tem como querer fazer o phase out de uma indústria que é extremamente tributada [a de óleo e gás] para uma indústria que é extremamente subsidiada [a de renováveis]. Governos no mundo inteiro têm problemas fiscais… como pretendem fazer isso? Entrando no Brasil, como você vê o estágio atual da Petrobras? Sei que é cedo para falar. O novo governo, afinal, só tem 10 meses. Mas já há críticas em relação à condução da empresa no sentido de ela não ter mais a mesma disciplina de capital de alguns anos atrás e estar sendo instrumentalizada para objetivos de política econômica e industrial. Como você está vendo isso? Mexer na Petrobras hoje é muito mais difícil. A fiscalização dos órgãos de controle sobre a empresa se tornou muito mais severa. A cláusula do estatuto, que garante o reembolso da União ao acionista minoritário caso a empresa seja direcionada pelo governo para fazer algo que uma empresa privada não faria, garante uma enorme proteção. A Petrobras é um transatlântico que se mexe devagar, é uma empresa de economia mista que responde para todos os órgãos de controle de uma empresa privada e todos os órgãos de controle de uma em-
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