e-revista Brasil Energia 483

Brasil Energia, nº 483, 30 de outubro de 2023 55 Observador arguto do mercado de petróleo e gás, o head de Óleo, Gás e Petroquímica da XP Investimentos, André Vidal, é cético por natureza. O analista não crê em “cavalo de pau” da Petrobras ou que a transição energética se viabilize do jeito que muitos gostariam. Para ele, a realidade sempre se impõe ante expectativas superestimadas. Confira: Diante de um cenário geopolítico tão fraturado, gostaria de ter o seu diagnóstico sobre os fundamentos do mercado de petróleo ante a conjuntura econômica global. As sanções à Rússia adicionaram complicadores logísticos à cadeia global, com aumento de custos. Mas não houve impedimento de fluxo [do petróleo e derivados russos], embora ele tenha mudado. Algo permitido pelas sanções é que o petróleo russo seja exportado à Índia, onde é refinado e são produzidos derivados consumidos na Europa. Ocorre, portanto, um fluxo que não deveria ser permitido, mas que todo mundo sabe que acontece – você exporta para um país, ele exporta novamente e ninguém consegue rastrear a origem daquele derivado. O “drible às sanções” não ocorre apenas na Rússia. Um dos casos mais emblemáticos é o da Malásia, que exporta para a China um volume de petróleo três vezes superior à sua produção. Comenta-se que a origem deste óleo pertence ao Irã, nação sancionada pelo Ocidente. Então, para nós, analistas, a qualidade da informação piorou muito. Os fluxos clandestinos do mercado internacional complicam bastante a análise de quem está tentando pegar o balanço de oferta e demanda para elaborar previsões. Após a invasão russa à Ucrânia, o mercado estava mega comprado, entre o final do ano passado e início deste ano, na tese de petróleo, seja direto no derivativo, seja em empresas do setor. A expectativa era um super ciclo do petróleo. Algumas casas estimavam o barril num patamar de US$150/US$200. A previsão de queda da produção russa, porém, não se confirmou, enquanto a produção fora da Opep veio melhor do que muitos imaginavam. E todas aquelas conversas de ruptura na cadeia de suprimento e dificuldade de financiamento foram exageradas. Do lado da demanda, havia uma expectativa de que a reabertura da economia chinesa pudesse disparar o consumo de óleo, o que acabou não acontecendo. Como se sabe, a China acumulou estoque. Os EUA, por sua vez, utilizaram suas reservas estratégicas para manter os estoques em níveis controlados. Talvez se não tivesse tido tal movimento, o mercado estivesse olhando com preocupação a questão do estoque comercial. No que diz respeito à disputa geopolítica no Oriente Médio, a China aumentou a sua influência na região. Basta lembrarmos que ela mediou um acordo de reaproximação diplomática entre a Arábia Saudita e o Irã. Isso fez com que vários países do OM pudessem se sentir mais “livres” em relação aos EUA. Soma-se a isso o fato de que as eleições se aproximam nos EUA, o que aumenta o risco do “populismo energético”. Os países de primeiro mundo, afinal, estão praticando um receituário oposto ao recomendado pelos manuais de economia: em vez de estimular a oferta e deixar os preços da energia flutuarem livremente para reduzir a demanda, os governos concederam subsídios aos consumidores e “demonizaram” as empresas de óleo e gás.

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