Opinião

Refino de petróleo no mundo: até quando será viável?

Por Izeusse Braga

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Em mais de 160 anos de presença crescente em nosso planeta, a indústria do petróleo vem sendo capaz de crescer, diversificar, adaptar-se e se reinventar para enfrentar, nos últimos tempos, os incontáveis desafios que insistem em determinar o fim da era de uma fonte confiável de energia.

Há mais de 40 anos, respeitadas autoridades do setor vêm afirmando que “o mundo tem petróleo para mais 40 anos de consumo”, fazendo que este seja um horizonte itinerante, mesmo porque, dada a senioridade das que o afirmam, nenhuma delas estará por aqui para confirmar suas assertivas.

Hoje, o foco das preocupações da indústria está migrando para a área de refino, alvo de exigências de qualidade crescentes, maior eficiência e menores emissões, mas não sendo ainda objeto de forças dissuasórias que comecem a reduzir significativamente o nível de 102 milhões de barris/dia de capacidade de refino em todo o mundo (BP Statistical Review 2021).

A rigor, nos últimos 20 anos a capacidade de refino mundial cresceu de 82,4 (2000), passando por 91,7 (2010), chegando a 101,9 milhões de bbl/dia em 2020, destacando-se as regiões da Ásia-Pacífico (35,7%) e Europa-Eurásia (23,4%) e América do Norte (21,3%), que juntas representam mais de 80% da capacidade de refino mundial.

Já na América do Sul e Central, que abrigam 18,7% das reservas mundiais provadas de óleo (323,4 bilhões de bbl), a capacidade de refino representa 6,1% da capacidade mundial, tendo passado de 6,35 em 2010 a 6,16 milhões de bbl/d em 2020.

Nos mais recentes encontros técnicos para discutir o futuro do refino no mundo e na LAC, a ARPEL apresenta um panorama em que se destacam as forças que atuam nesse segmento, e que poderão ser os direcionadores dos investimentos para as adaptações que visam acompanhar a demanda mundial (e regional) por derivados, especialmente para o setor de transporte, que representa 55% da demanda mundial de petróleo:

  1. As anunciadas decisões políticas de alguns países em banir até 2025, 2030 e 2040 os veículos a combustão interna;
  2. As decisões políticas de alguns países em descontinuar suas refinarias, já começando a importar 100% do que consomem;
  3. As exigências por crescentes padrões de qualidade dos combustíveis, reduzindo as emissões veiculares (CO, NOx, SOx, etc.) visando aumentar a proteção do meio ambiente e da vida humana;
  4. As ameaças da expansão das frotas de veículos movidos a eletricidade ou outras fontes renováveis;
  5. As decisões de grupos empresariais em reduzir suas capacidades de refino, intensificando investimentos em renováveis;
  6. As intenções declaradas de organizações em redirecionar investimentos e tecnologias para a produção de petroquímicos;

Estima-se que as estratégias dos países que abrigam reservas importantes de petróleo diferirão, por óbvias razões, das estratégias de quem tem grande (ou total) dependência do óleo importado.

Os desequilíbrios daí decorrentes possivelmente aumentarão significativamente as relações de troca inter-regionais, incrementando-se o comércio internacional de derivados de petróleo, que seguirão sendo produzidos onde se sintam menores pressões políticas contra nossa indústria, mas sabendo-se que terão que produzir derivados com qualidade crescente, especialmente com redução drástica ou eliminação de elementos contaminantes.

A grande pergunta que não quer calar: sabendo-se que o refino de petróleo gera hoje mais de 90% dos combustíveis que movem o setor de transporte, quem (e onde) seguirá refinando petróleo, quando, por uma questão de escala, as decisões de focar em outras fontes de energia comecem a afetar a rentabilidade da atividade de refino em todo o mundo? Será essa uma “nova força” que induzirá o redirecionamento de focos e investimentos com maior intensidade para os não renováveis?

Daqui para frente, será fundamental acompanhar toda essa movimentação, para que o setor tenha muito claro quando deverá começar a migrar de forma incisiva para a produção de novas formas de energia, buscando o equilíbrio que permita seguir remunerando seus acionistas, sem deixar de refinar petróleo, enquanto este seguir sendo aceito pela sociedade mundial como uma das formas mais confiáveis de se gerar energia, combustíveis e petroquímicos.

 

Izeusse Braga é economista e escritor, pós graduado em Marketing e conferencista internacional. Foi secretário geral da Arpel e diretor comercial da Petrobras.

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