Grandes distribuidoras também se voltam para o diesel russo

Vibra anunciou que está pronta para importar produto de origem russa; fontes dizem que Raízen e Ipiranga iniciaram processo

Após a enxurrada de diesel russo no Brasil por importadores de pequeno e médio porte, grandes distribuidoras agora também se voltam para a importação do combustível com desconto por sanções à guerra na Ucrânia.

Uma fonte do setor afirmou ao EnergiaHoje que Raízen e Ipiranga já iniciaram o processo. Procuradas, as duas empresas afirmaram que não vão comentar a informação. Já a Vibra anunciou que está pronta para realizar importações do produto russo, agora que já resolveu questões de compliance.

“Apesar dele não estar disponível neste momento, (…) passamos a incluir o diesel russo entre nossas alternativas de sourcing para diesel”, afirmou o CEO Ernesto Pousada, durante teleconferência realizada este mês para detalhar os últimos resultados da companhia.

A Vibra optou por não importar o produto ao longo do trimestre. “Focamos em reforçar nosso posicionamento de sourcing na molécula nacional e, com isso, priorizamos nossa rede embandeirada, nossos clientes contratados e operações que melhoram a rentabilidade. Dessa forma, tivemos uma redução em nossos volumes totais”, afirmou a companhia em documento disponibilizado ao mercado.

Já segundo Pousada, a Vibra quer “garantir que o processo de importação de diesel russo é feito de maneira correta sob ponto de vista de compliance” e que, por isso, aguardou o momento correto para dar início ao processo de importação do produto. “A Vibra não atua de maneira oportunista”, afirmou, acrescentando que o “diesel estará aqui de maneira estrutural”.

Raízen e Ipiranga

A Raízen, por sua vez, citou limites à compra do combustível de origem russa na sua última apresentação de resultados a investidores, tambem este mês. O diretor financeiro da companhia, Carlos Alberto Moura, lembrou das cotas de suprimento da Petrobras, a principal fornecedora do produto. “Ao lidar com a Petrobras, é necessário respeitar uma cota de suprimento. Caso se renuncie a essa cota, é preciso aguardar disponibilidade futura, o que não é positivo em termos de previsibilidade de distribuição”, disse.

A Ipiranga também reforçou sua parceria com a Petrobras ao ser indagada sobre abastecimento de combustíveis em apresentação de resultados da Ultrapar, sua controladora. Mas deixou claro que continuará importando parte de seus produtos. Em teleconferência este mês para apresentar resultados do grupo Ultrapar, controladora da Ipiranga, o CEO de Negócios, Leonardo Linden, afirmou que a Petrobras continua sendo o supridor principal da Ipiranga “em qualquer circunstância, porque, enfim, é o parceiro que nos dá a segurança de suprimento que a gente precisa e assim será”.

“Obviamente, e isso é sabido, a Petrobras não supre o mercado inteiro, e a Ipiranga vai continuar importando, se estruturou para isso, tem sua área de trading, sua área de supply, hoje capacitada a originar produto em qualquer parte do mundo. Vamos continuar fazendo isso de forma competitiva e eu acredito que o mercado brasileiro, a precificação do mercado brasileiro vai se ajustar a um modelo onde você tem uma composição de preço Petrobras e preço importado”, ponderou Linden.

Cenário desafiador e estoques

O segundo trimestre apresentou para as grandes distribuidoras um cenário desafiador com a forte entrada de diesel de origem Russa, que praticamente substituiu o produto americano no Brasil. Segundo a Vibra, o volume de diesel importado no Brasil no trimestre foi de cerca de 3,5 milhões de m³, no qual o produto russo representou cerca de 55%.

Sobre eventual possibilidade de desabastecimento, Leonardo Linden declarou que a Ipiranga não tem problema de suprimento dos seus clientes regulares, e que não vê “nesse momento nenhuma indicação que a gente possa ter qualquer problema de suprimento dos nossos clientes regulares”.

O mesmo fez a Vibra, descartando desabastecimento.“Nossos estoques estão nos níveis normais. A gente vem atendendo nossos clientes regulares e nossos clientes contratados de uma maneira absolutamente normal. Nós temos estoque para atendimento aos nossos clientes”, garantiu o presidente Ernesto Pousada, em teleconferência este mês.

A Ipiranga afirmou também sobre sua atuação no mercado internacional. “O mercado spot, nós seguimos atuando no mercado spot e por isso entende-se TRR e bandeira branca. Agora, a gente precisa entender que nesse cenário hoje de suprimento de Brasil, o mercado spot ele é muito mais exposto aos preços internacionais porque essa é uma molécula marginal, então vai ter momentos que se internamente o mercado não tiver uma resposta de precificação que justifique você ter um custo internacional, fica difícil você trabalhar o segmento”.


Matéria originalmente publicada no EnergiaHoje em 28 de agosto de 2023.

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