Opinião

A fuga de novos talentos da indústria do petróleo

Como voltar a atrair jovens talentos para a indústria do petróleo se cenários negativos chegam diariamente à cabeça deles? Quebrar esse paradigma é um dos grandes desafios da Indústria do Petróleo no Brasil

Por Wagner Victer

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Participo de grupos de discussão de engenheiros que se formaram na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) há mais de 35 anos e, não raro, constato que alguns, mesmo os mais experientes, afirmam que os combustíveis fósseis, em especial os derivados do petróleo, estão com data definida para o fim de uso.

O crescimento de organizações voltadas para carros elétricos, como a Tesla; o anúncio de países europeus sobre a adoção compulsória de veículos elétricos; e o desenvolvimento competitivo de fontes não convencionais para geração de energia, sobretudo a solar e a eólica, têm subsidiado afirmações quanto ao futuro da indústria do petróleo como verdades absolutas. Essas afirmações desanimam os jovens que pensam em ingressar nessa indústria.

Há cerca de 40 anos, com a consolidação da produção offshore no Brasil, especialmente na Bacia de Campos, ainda sob monopólio estatal, a indústria do petróleo atraía talentos e fazia com que grandes empresas, como a Petrobras, a única que atuava no upstream no país, criassem turmas nas principais universidades do país, captando esses talentos.

Recentemente, em conversa que tive com um dos professores do Instituto Federal Fluminense (IFF), de Cabo Frio (RJ), uma das poucas instituições a oferecer o curso técnico de Petróleo e Gás de forma integrada ao Ensino Médio, recebi a desalentadora informação de que a instituição pretendia descontinuar a oferta dessa formação, substituindo-a por um curso técnico em Química, pois, teoricamente, traria maior atratividade e perspectivas para os jovens daquela região.

Da mesma forma, vimos em edições do Enem/Sisu que o grau de procura pela graduação em Engenharia de Petróleo tem caído progressivamente. Um exemplo é a pontuação para acesso pelo Sisu 2020 dos cursos de maior demanda da tradicional Politécnica da UFRJ, como Engenharia de Produção (795 pontos) e Engenharia Mecânica (789 pontos), já distantes do curso de Engenharia de Petróleo (752 pontos). Essa diferença de pontuação não é pequena, pois os números utilizam uma distribuição gaussiana de notas, na qual essa diferença absoluta representa muito mais do que um percentual linear.

Como voltar a atrair jovens talentos para a indústria do petróleo se cenários negativos chegam diariamente à cabeça deles? Quebrar esse paradigma é um dos grandes desafios da Indústria do Petróleo no Brasil.

Tenho um exemplo pessoal de falta de foco institucional nessa sensibilização: em 2018 meu filho era aluno do curso técnico em Petróleo e Gás, no mesmo IFF citado e, como coordenador de um evento, o PETROIF, solicitou uma palestra à ANP, para que a agência apresentasse aos estudantes perspectivas sobre a indústria do petróleo. Lamentavelmente, seu pleito foi solenemente ignorado. Ou seja, a Agência, que seria um dos principais agentes a fomentar o interesse na indústria do Petróleo e Gás, não deu atenção à época, justamente para um dos poucos cursos que formava profissionais de Ensino Médio voltados para o setor.

A falta de apoio para jovens que ainda estão na Educação Básica, com o objetivo de despertar o interesse para o setor, merece reflexão por parte de diversos agentes, não só da ANP, mas de instituições como o IBP, EPE, MME e, em especial, pelas próprias indústrias do segmento. Aliás, um exemplo de sucesso para despertar interesse desde a Educação Básica é o adotado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), na execução da Olimpíada Brasileira de Matemática para Escolas Públicas, que desperta talentos para as Ciências Exatas.

Quando secretário de Estado de Educação vi que, ao contrário de outros segmentos que procuravam a Secretaria para pedir apoio e para desenvolver projetos em parceria, a indústria petrolífera, com raras exceções, literalmente não possuía esse foco de aproximação ou esclarecimento.

O futuro da indústria do petróleo e tudo que dela deriva é fascinante, com extremo potencial. Mas é preciso que os jovens percebam isso. Portanto, uma postura proativa e estratégias para atrair talentos são essenciais.

Wagner Victer é engenheiro, administrador, ex-Secretário de Estado de Energia, Indústria Naval e do Petróleo e ex-Conselheiro do CNPE

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