Opinião

A educação básica e a indústria do petróleo

Ao pensar na integração empresa-escola, é possível constatar que ainda existe um distanciamento da indústria de petróleo e das áreas de energia em relação à educação básica no país

Por Wagner Victer

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Muito me chamou a atenção quando fui a um evento com o Comandante Geral do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro e constatei que boa parte dos presentes, inclusive oficiais da ativa e da reserva, teve o interesse despertado para a carreira militar por terem participado de um projeto para crianças do Corpo de Bombeiros conhecido como O Botinho.

Com base nessa constatação, é possível refletir sobre a atração e a aderência de talentos para diversas profissões, tema associado a estratégias e valores modernos de grandes corporações e que, portanto, podem viabilizar ações efetivas.

Dentro do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 da ONU - Educação de Qualidade - está a meta de "assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”.

Este objetivo, estabelecido em 2012 na Conferência Rio+20, orienta para uma série de ações integradoras, com incentivos para que jovens passem a desenvolver competências técnicas e habilidades em diversos segmentos, especialmente naqueles voltados para a sustentabilidade, questão que, ao contrário do que muitos pensam, não se relaciona somente com intervenções diretas na preservação do meio ambiente.

Ao pensar na integração empresa-escola, é possível constatar que ainda existe um distanciamento da indústria de petróleo e das áreas de energia em relação à educação básica no país, o que é contraditório, pois somos um grande produtor de energia primária. Seria natural a prática ser recorrente, não só considerada nas políticas socioambientais, mas também nos planos estratégicos das organizações.

Ações voltadas à sustentabilidade associadas à educação são cada vez mais exigidas pela sociedade, especialmente das empresas de energia. Inclusive, o despertar do “olhar positivo” para o segmento da indústria de petróleo e gás nem sempre foi de fato fomentado.

Neste contexto, o melhor momento para se agir é a partir da educação básica, o que, infelizmente, não é feito com a devida eficácia, inclusive por instituições que possuem recursos voltados ao fomento da ciência e da tecnologia, como a ANP, e que colocam, historicamente, foco em fases mais avançadas no nível de pós-graduação.

É comum para aqueles da indústria do petróleo que já correram pelo mundo verificar que, em regiões onde essa fonte é importante, sempre existem os chamados “museus do petróleo” ou “espaços da energia”, bastante ativos, que representam maneiras de associar essas importantes áreas geradoras de desenvolvimento e emprego à cultura de um país.

No Brasil, apesar da multiplicidade de centros culturais e museus de diversos temas, não conseguimos implementar um “Museu do Petróleo”, que serviria como ponte para atrair a atenção dos jovens estudantes da educação básica no sentido de conhecer nosso potencial, especialmente quando a narrativa, distorcida, aponta para o “final dos tempos” da indústria de petróleo. Recordo, por oportuno, que por muitas vezes encontrei um dos ícones do setor de petróleo, o engenheiro Marcos Assayag, tentando desenvolver projetos dessa natureza por meio de parcerias institucionais em uma jornada sem resultado.

Aliás, no passado, a indústria de petróleo já povoou nossas mentes com sonhos, através, por exemplo, da obra de Monteiro Lobato e também do Petrolino, personagem das revistas em quadrinhos distribuídas pela Petrobras na década de 1970.

Hoje, com os recursos tecnológicos e de mídia, muitas ações proativas da indústria podem ser praticadas, como palestras e atividades lúdicas, decodificadas para a linguagem dos jovens. Já na qualificação de docentes é algo importantíssimo como ação permanente.

Outro sintoma desse cenário de pouca sinergia é que, na área do ensino médio profissionalizante, ainda são poucos os cursos relacionados à indústria do petróleo e gás. Os que existem são minguantes e recebem pouco apoio do setor, como o do Instituto Federal Fluminense (IFF), de Cabo Frio (RJ), que enfrenta a possibilidade de ser descontinuado e cujos cursos podem ser substituídos por outros, como o de Química.

No passado, enquanto secretário de Educação, tive diversas oportunidades de avocar a participação de empresas do setor do petróleo e de energia em ações, e poucas de fato firmaram parcerias eficazes e não pontuais. Destaco até algumas iniciativas, como a da Shell, com o Projeto denominado Nxplores, que levou o sentimento de sustentabilidade e continuidade do setor energético aos jovens e professores do ensino médio da rede pública.

Se quisermos ter uma indústria de energia melhor percebida e alinhada como sonho por nossos jovens, devemos disponibilizar, desde cedo, o conhecimento de nossas vantagens e a perspectiva de que o segmento pode ser sustentável e que não se encerrará em poucos anos.

Tal ação é mais que um ato de responsabilidade socioambiental - é uma grande oportunidade.

Wagner Victer é engenheiro, administrador, ex-secretário de Estado de Energia, Indústria Naval e do Petróleo e ex-conselheiro do CNPE

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